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Perdas.

  • Foto do escritor: Giovana Cogo
    Giovana Cogo
  • 4 de abr. de 2019
  • 3 min de leitura

Nós gostamos de marcar por onde passamos. Desde o coração das pessoas com atos, até os postes das ruas com nossos próprios nomes. Só para que se lembrem de nós depois que partirmos. Porque morrer é um medo natural do homem e ser esquecido é um medo irracional da consciência humana.

Simplesmente não nos damos conta de como é importante criar laços por onde passamos, nos lugares que frequentamos, com as pessoas que nos acompanham, ou como é bom dar valor a esses momentos bobos. Pois estamos nos esforçando demais com coisas grandes demais, que tomam nosso tempo demais e... não estamos vivendo.

Partindo de um aniversário para os mais íntimos, que já diz tudo sendo um momento para poucos se lembrarem, ao bar da esquina onde comemoramos a partida de futebol do time, onde ninguém realmente se conhece, mas mesmo assim estão reunidos pelo clube do coração, e todos vão se lembrar.

As risadas desses momentos, as piadas internas, o carinho, a comoção e principalmente a união, criam laços. Criam memórias e, indo mais além, saudades, recordações, corações aquecidos por algo, alguém....

Não ter isso na vida é ser isolado.

Se isolar não é viver. E se isolar apenas por medo de se machucar é ter medo de viver. Não querer ganhar coisas, conquistar pessoas, se relacionar socialmente, é ter medo de viver, sim! Isso não é viver, não em sociedade, como nossos ancestrais resolveram por N motivos que seria melhor.

Todos vamos nos machucar, todos vamos perder algo e alguém. Porque a vida é assim, um ciclo de perdas e ganhos dolorosos, mudanças drásticas e a busca por uma vida que não seja vazia de memórias. Que seja cheia de amor, tanto por pessoas, pelo trabalho, por animais, por causas, por um estilo de vida. Todo amor é válido em todos os casos.

Mas de quê adianta ganhar algo se estamos cercados de perdas? Nosso coração fica tão vazio quando a pessoa perdida literalmente fazia a diferença na nossa vida. E as coisas não serão mais como antes. Não podemos mais esperar aquela ligação nos aniversários, ou aquela discussão no ano novo sobre a azeitona, ou sobre quantos colares usamos ou deixamos de usar naquele dia, ou rir do avô bêbado no casamento da prima junto da pessoa.

Perder alguém dói tanto. Realmente, perder alguém, do jeito como todos perdem, sem nunca mais ter uma chance, dói tanto.

A busca por lembranças com a pessoa vira uma necessidade. Como era sua risada, como era o seu sorriso, como ela gritava brava, como ela prendia o cabelo, como ela fazia aquele bolo que ninguém consegue fazer igual, como ela te ensinou coisas e como a vida dela não teve grandes realizações, foi curta, e deixou lembranças.

Porque ela soube viver de um jeito que nós nunca, com tudo que temos, inclusive o exemplo dela, conseguiremos viver. Pois buscamos as coisas grandes, o sucesso, a glória. E a pessoa mais gloriosa foi ela, que marcou todo mundo que a conheceu.

Nos recordamos da última vez que dizemos tchau, tão rápido (devia existir um aviso prévio de “esse não é um tchau, é um adeus”). Sempre nessa pressa de voltar a fazer nada. Os abraços foram meio dados, beijos meio trocados, mãos que se apertaram sem jeito, um aperto fraco.

Não existem lembranças suficientes, nem músicas tristes o suficiente no mundo quando penso nela. Só porque ela se foi, e então as músicas perderam o sentido, as cores perderam o brilho e a vida passou a doer mais. Porque quando ela brigava comigo eu sabia que era por amor.

E eu não tenho medo de viver. Nós não temos. Porque, agora, nós sabemos dos riscos de viver. Sabemos de toda a dor que existe no mundo, e toda a fome, e mesmo assim escolhemos viver, fazer amizades, visitar a família, amar alguém. Amar muito todas as pessoas que fazem por merecer o nosso amor, seja com atos ou escrevendo nossos nomes nos postes das ruas.


Esse texto é uma homenagem à uma pessoa que passou pela minha vida e que me deixou a três anos. Que eu sinto muita saudade e guardo no meu coração. Minha tia Ana lutou por muita coisa. Realizou seu sonho e deixou um anjo, o filho dela, pra cuidar das pessoas que sentiriam sua falta. E nós achando que íamos cuidar dele.
 
 
 

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