Dançar tem a ver com Livros?

Eu guardo comigo a lembrança doce do dia em que você pegou a minha mão direita e tentou me girar, como num passo de dança. Não entendi o propósito daquilo e não me permiti girar. Não havia música, por que diabos queria me fazer rodopiar?

Na sua segunda tentativa, eu ainda não o compreendia e você me disse que eu devia me deixar ser levada então parei para refletir um pouco, ninguém nunca quis me girar.

Na terceira vez eu já sabia o que você queria quando pegou minha mão direita e a levantou sobre minha cabeça, você me girou e eu deixei. E eu soube. Você só estava tentando roubar meu coração com seu jeito fofo de querer me surpreender.

E você roubou meu coração.

Não te dei meu corpo mas te entreguei a minha alma naquele simples rodopio. Foi como nas histórias de amor que eu leio, tirando títulos de nobreza e cavalos brancos. Ela envolvia diálogos ótimos e a sensação de que qualquer momento poderia ser o último. A nossa história foi daquelas que mais gosto: as que eu choro no final.

Não falo daquele choro de raiva, amargura e/ou tristeza. Falo daquele choro que quando você fecha o livro, sente que sua vida mudou porque aquele livro te marcou. Marcou pela narrativa leve e pelo romance de tirar o folego e mesmo que eles não tenham ficado juntos, tudo bem.

Tá tudo bem. E dessa vez é verdade. Não pesa no coração e não soa como mentira.

Porque sei que você nunca mentiu para mim e te amo por isso, mesmo que no fim da nossa história cada um tenha tomado um rumo.

A gente aproveitou enquanto você me girava e riu nas falhas tentativas.

Nós dançamos naquela noite. E a maneira como conduzimos a nossa dança foi única. Você me levou com sua delicadeza nos nossos passos, nessa sua melodia calma e apaziguadora. Trouxe todos esses elementos para minha vida tão bagunçada.

Eu tentei não tropeçar no meu próprio pé desajeitado, acostumado com corridas e cheio de calos. Nunca havia dançado com alguém, mas você sussurrou que era bom dançar comigo.

Foi ótimo dançar com você.

Como todo livro acaba, toda música tem um fim. E de todos os livros que eu li você foi o melhor, te desvendar a cada página foi extasiante. O fim da música, tenho que confessar, foi meio vazio e muito silencioso.

Nada mais me tocou desde aquela noite em que você me girou no meio da rua.

Seu sorriso era lindo, seus olhos brilhavam muito e sua voz era completamente gostosa.

Devolva meu coração para que eu possa deixar que o roubem novamente.