Carta (02)
- Giovana Cogo

- 30 de jan. de 2019
- 3 min de leitura
Meu querido,
Hoje eu chorei mais uma vez. Segurei o máximo que podia, mas apenas senti as bochechas molhadas e engoli em seco, esperando que passasse como passou das últimas vezes. Não era você. Só, apenas, ainda, não era você.
Me enganei. Eu... Desesperadamente precisava de você, aqui, do meu lado. E me deixei levar. Me forcei a sentir e errei aí. Não vai ser forçado quando for você, será como a água no rio correndo pro mar, sem barragens. Não me importo de ser apenas eu correndo pro meu mar, principalmente se meu mar for você, acima de tudo se for um mar profundo onde posso nadar sem medo.
Sei também que não vai ser simples -eu li que o amor mais verdadeiro é o mais inconveniente. Não posso nem te acusar de me deixar, pois nunca esteve aqui.
Como você pôde fazer isso comigo? Me deixar aqui, a sua espera, ansiosa, pra qualquer um vir e pegar pela mão, minha mão é sua desde a primeira vez que envolveu as suas nela. Como deixou eu me equivocar, pensando que era você, e dizer que ele era o motivo do meu coração bater sendo que sempre foi você? Sempre foi, a partir da primeira vez que se aproximou de mim e fez ele bater descompassado e forte. Nunca mais ele bateu direito. Você "coisou" meu coração.
Eu só queria sentir seu toque suave na minha pele algum dia. O cheiro que você tem quando chove (isso é meio específico). O calor que você emana no frio. Tocar carinhosamente sua mão calejada, depois te envolver num abraço e nunca mais soltar, sempre que eu sentir necessidade, constantemente. E poder olhar nos seus olhos e dizer que te amo. Sem ninguém te impedindo de me amar de volta, do jeito que eu quero, que eu preciso. Com você aqui, do meu lado, sem sair de perto por tanto tempo. Por favor não desista de mim fácil como eu desisti da felicidade sem você... deve ter sido um sonho, o dia em que você esteve comigo.
Busquei outros sorrisos, outro olhar, mas só você tem o que eu preciso. Complicado. Como vou saber que te encontrei quando você realmente chegar? Seus olhos são azuis? Não sei. Às vezes podem ser verdes... outros dias castanhos, mas ainda são os seus olhos e eu sinto falta deles, que funcionam como o centro da terra me puxando e mantendo no lugar em que devo estar. Você é mais alto? Seu sorriso é pra mim? É importante, se for.
Me antecipei, pensando que você finalmente tinha chegado. Deixei entrar pela porta, passar o braço pelo meu ombro e se sentir confortável no meu calor.
Eu baguncei, sem querer, a vida dele e ele a minha. A minha vida que também deveria ser sua, e se é minha e sua, é nossa. Todos aqueles momentos falsos deveriam ter sido nossos, mas você nunca esteve aqui. Quando você estará?
Eu menti quando tive que acabar com tudo, falei palavras duras. Machucou ouvir a súplica e o choro. As palavras machucam mais que qualquer batida de dedinho do pé na quina do móvel. Dói lembrar... Mas você nem existe pra me consolar ainda.
Resolvi que continuo te esperando, aqui. Na verdade essa é a única coisa que tenho feito. Você vai me fazer esperar demais? Mais uma vez? Meus dias têm sido singulares. Eu acordo, eu respiro fundo e encaro mais um dia. Estou esperando algo bom acontecer pra poder ficar feliz de novo. Estou esperando você pra ficar feliz de novo.
Eu espero, aqui, ao mesmo tempo que tento não sonhar com você e me enganar. Tento me manter lúcida esperando o amor que que chamo de meu, sem inventar memórias que ainda não construímos.
Sua Amada.



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